“Pai, me ensina a fazer chover!
– Fazer chover, Lua, é uma arte. Precisa treinar muito, aprender muito. É coisa de gente grande.
– Mas, pai, o que eu preciso fazer para aprender a fazer chover?
– Precisa aprender a falar com o Espírito da Chuva que mora muito longe daqui.
– Eu posso ir até lá?
– Todo mundo pode, mas para isso é preciso ser corajoso, passar por muitos perigos…
– Eu posso ir até lá?
– Talvez, quando você crescer…
– O que eu preciso fazer?
– Primeiro você precisa crescer”.
“- E como eu faço para crescer desse jeito que o avô tá falando?
– É preciso ouvir.
– Ouvir o quê?
– Ouvir histórias, ouvir os rios, ouvir as árvores, ouvir o fogo, ouvir a terra e os animais.
– E o que eu faço para ouvir as histórias, os rios, as árvores, o fogo, a terra e os animais?
– Você precisa aprender.
– Puxa, vô, por que você não fala logo tudo de uma vez?
– Por que quem fala tudo de uma vez não ensina ninguém a ouvir. Volte no final do dia. Você vai aprender a ouvir”.
MUNDURUKU, Daniel. O segredo da chuva.
Fazendo parte do projeto “Conheça o Artista”, uma das atividades do “Mês Literário”, e dialogando também com o projeto interdisciplinar “Defensores da Natureza”, a artista convidada foi mais que especial: Larissa Ye Padiho Duarte.
Uma mulher indígena do povo tukano, artista, mãe, estudante universitária e pesquisadora esteve conosco para compartilhar um pouco do seu conhecimento com nossos educandos.
Muito embora tenhamos uma população significativa de indígenas, com mais de 300 povos habitando o território nacional, a história muitas vezes é contada na perspectiva dos brancos. Por esse motivo, toda a riqueza cultural, a importância histórica (no passado e no presente) desses povos acabam por aparecer – quando aparecem – em notas de rodapé.
Mas essa história está sendo recontada nos últimos tempos, graças à luta do movimento indígena. Sendo uma dessas vozes, Larissa falou um pouco sobre a vida do seu povo, seus hábitos, a produção artística dos Tukano e, talvez um dos aspectos mais importantes: que não há, para os Tukano, uma distinção entre ser humano e natureza, pois nós também somos natureza. Por esse motivo os territórios indígenas se tornam tão importantes, pois são agentes na preservação ambiental e nos trazem grandes lições de como repensar e nos reposicionar diante da nossa relação com a natureza.
Ela também compartilhou um pouco dos processos artísticos do povo Tukano, focando na produção de pinturas corporais e gravuras, mesclando os saberes do seu povo com as técnicas de impressão produzidas pelos brancos.
Para os nossos educandos esse breve contato com Larissa foi fundamental para desmistificar o que são e quem são os povos indígenas, compreender como as culturas dialogam e se transformam e, sobretudo, como a cultura se faz presente em nossas vidas.
Contudo, o estudo e valorização da cultura indígena não podem se dar em momentos pontuais na escola. Para conhecê-los de fato é necessário aprender a ouvir as inúmeras vozes que tecem a nossa trama chamada Brasil.
Thaís Hércules, professora de Arte