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O Atêlie na Educação Infantil do Colégio Emilie

O Atêlie na Educação Infantil do Colégio Emilie


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O ateliê no segmento para primeira infância difere da sala de arte e do  ensino de arte proposto para os alunos do Ensino Fundamental. O conceito de  sala de arte refere-se a um lugar de valorização da arte e ensino desta, numa  disciplina escolar com a condução do trabalho pedagógico pelo professor de  arte. Já o ateliê refere-se a um espaço multimodal para infância para vivências  investigativas, relações e construção de significados. 

O termo ateliê termo surgiu nas escolas infantis municipais de Reggio  Emilia nos anos 70 como um espaço “para manipulação ou experimentação com  linguagens visuais separadas ou combinadas, isoladamente ou juntamente às  linguagens verbais” (MALAGUZZI,1999, p.73) , portanto é um lugar de  investigação onde as crianças transitam entre diferentes linguagens criando a  arte da infância. 

Um lugar de ruptura na ideia da sala de arte para um conhecimento  inspirado nos ateliês dos “séculos XVIII, XIX e começos do XX, ao ateliê ou  estúdio de um artista, que eram lugares, principalmente, de experimentação, de  busca de novas técnicas e processos artísticos, esta é a ideia de Malaguzzi” (HOYUELOS, 2013, pg. 127) ao propor o ateliê para educação infantil como um espaço de relações e encontros metafóricos de novos significados e sentidos  que se entrelaçam à singularidade infantil e a uma dimensão estética da arte da  experiência.  

Os contextos de descobertas e aprendizagens vividos no ateliê são  interconectados entre elementos estéticos, expressivos, tecnológicos não como  uma disciplina, mas uma ponte entre os percursos investigativos de cada turma  iniciados na sala para serem explorados por meio de experiências potentes em  linguagens diversas, neste ambiente de forma poética, dialogando com as  teorias provisórias das crianças. 

 Apresenta-se como um lugar para viver o imaginário infantil com novos  significados e com instrumentos, técnicas e linguagens que favorecem “itinerários lógicos e criativos das crianças, um lugar para se familiarizar com  semelhanças e diferenças entre linguagens verbais e não verbais”(GANDINI, 2012, p.19), nas quais as crianças constroem alfabetos da arte infantil e  gramáticas para investigação e elaboração de seus projetos, construindo assim  conhecimentos interligados por uma pluralidade de linguagens.  

O ateliê é um convite às texturas, materiais não estruturados, projetos  inusitados, aportes tecnológicos que instigam o olhar do macro ao micro, ou  projeções que se abrem como portais à outras dimensões, um ambiente  metafórico que propicia o saber contemplados imbuído pelos direitos de  expressar-se, conviver, explorar, participar, conhecer-se e brincar.  

Diferente de uma sala de aula, o ateliê se efetiva no trabalho em pequenos  grupos com um atelierista que estabelece com a professora de cada turma um trabalho conjunto, tanto no planejamento dos contextos pedagógicos a serem  investigados por cada mini -grupo, quanto nos relançamentos para cada grupo  que frequentará o ambiente como um laboratório de criação e indagação.  

O atelierista é um profissional formado em Arte, mas com o olhar sensível  para as descobertas da infância e as linguagens expressivas, um profissional  capaz de escutar as crianças e traçar com seus pares contextos potentes,  estéticos e significativos para as investigações das crianças construção de suas  aprendizagens. É um articulador dos relançamentos das documentações das  documentações pedagógicas dos processos vividos em cada turma da educação  infantil.  

Márcia Nielsen, Coordenadora Pedagógico-educacional

Referências Bibliográficas: 

EDWARDS, Carolyn.; GANDINI, Lella.; FORMAN, George. As Cem  Linguagens da Criança – A Abordagem de Reggio Emilia na Educação da  Primeira Infância. Porto Alegre: Artes Médicas, 1999. 

GANDINI, Lella, HILL, Lynn, CADWELL, Louise, SCHWALL, Charles. O papel  do atêlie na educação infantil : a inspiração de Reggio Emilia. Porto Alegre:  Penso, 2012. 

HOYUELOS, Alfredo. La estética en el pensamento de Loris Malaguzzi.  Espanha :Octaedro, 2006 MALAGUZZI, Loris. História, Ideias e Filosofia Básica. In: EDWARDS, Carolyn.  GANDINI, Lella. FORMAN, George. As Cem Linguagens da Criança – A  Abordagem de Reggio Emilia na Educação da Primeira Infância. Porto Alegre:  Artes Médicas, 1999, p. 60-104.

A CULTURA DO ATELIÊ – educar e educar-se na investigação percurso formador na prática inspirado na abordagem educativa de Reggio Emilia

 Por José Cavalhero

A abordagem educativa de Reggio Emilia, apesar de todo o seu rigor pedagógico, não pode ser tratada como um método, mas como uma fonte inspiradora que nos faz refletir sobre nosso posicionamento ético, estético e político como educadores, convidando-nos a revisar conhecimentos pedagógicos e transformarmos os modos com os quais nos relacionamos principalmente com crianças em creches, escolas infantis e nos anos iniciais do ensino fundamental. Todo esse movimento nos possibilita o estudo e o aprofundamento de uma educação que só pode se constituir como tal, por considerar as crianças como sujeitos de direito, seres potentes e capazes de produzirem conhecimento na interação com os outros e com toda complexa diversidade de mundo. Por isso, trata-se de uma concepção de educação que entende a arte como um campo de experiência em que as crianças se relacionam com as possíveis “cem linguagens” – metáfora e ao mesmo conceito criados por Loris Malaguzzi, que explicita os múltiplos modos de expressão que as crianças se permitem dialogar com o mundo. Essas premissas requerem do adulto uma formação contínua e processual, uma constante postura investigativa sobre os valores que embasam a educação que já é exercida e colocá-la em confronto com a que se quer exercer.

Portanto, deseja-se realizar encontro entre pessoas que estejam dispostas e disponíveis à co-criação de novos modos de educar, a partir das práticas exercidas nos contextos educativos dos participante e nas aproximações com a abordagem reggiana, pesquisando o papel do “atelierista” e do “pedagogista” – dois protagonistas fundamentais para o exercício da “prática ateliê” no ambiente escolar. O ateliê, nas escolas de Reggio Emilia, é entendido como um “lugar sem fronteiras” que acolhe e proporciona experiências estéticas como parte fundamental do universo da Educação Infantil, trazendo para o adulto a responsabilidade de dar abertura aos processos de subjetivação (da cultura, de si, da educação, das crianças…) Um ateliê na escola não se constrói necessariamente delimitando um espaço físico, mas criando um “estado de permanência”, uma cultura de ateliê que oportuniza para as crianças o estabelecimento de relações complexas de aprendizagem, valorizando-as como construtoras, envolvendo-as em investigações das múltiplas linguagens e na potencialidade expressiva.

José Cavalhero Brasileiro, residente em Portugal, artista e educador que sou, iniciei minha trajetória como professor em várias escolas públicas e particulares de São Paulo – da Educação Infantil ao Ensino Médio. Trânsito por diferentes lugares e tempos atuando em macro e micropolíticas educacionais, desde a formação continuada de professores da rede pública em diversos estados brasileiros e criação de currículo para escola particular, até em ateliê de artes visuais para pessoas com deficiência. Sou pesquisador da Abordagem Educativa de Reggio Emilia desde 2001 e me especializei nos cursos de coordenação pedagógica e atelierista, promovidos pela RedSolare Argentina e Reggio Children – Itália, o que me oportuniza estabelecer encontros éticos, estéticos e políticos com a abordagem reggiana. Entre 2016 e 2018, atuei como professor convidado no curso de Pós-graduação “Abordagem Educativa de Reggio Emilia”, no Instituto Singularidades – São Paulo. Sou mestre em Psicologia Clínica na PUC de São Paulo e participo dos estudos em psicanálise na ALCEP – Curitiba. Atualmente trabalho desenvolvo trabalho pessoal em poéticas visuais e escrita. Sou assessor pedagógico na Educação Infantil da Escola Vera Cruz e coordeno grupos de estudos promovidos pelo Centro de Estudos Prisma, ambos em São Paulo.

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